A invasão da Rússia à Ucrânia, que aconteceu por volta das 6h de Moscou (0h de Brasília) desta quinta-feira (24), não foi exatamente uma surpresa, considerando a tensão acumulada entre os dois vizinhos desde 2014 e a recente concentração de tropas na região de fronteira. Para André Luís Woloszyn, analista de assuntos estratégicos e especialista em conflitos de baixa e média intensidade, os primeiros movimentos no campo de batalha sugerem um conflito curto.
“Não há interesse em manter uma guerra prolongada”, disse o especialista em contato com a reportagem d’A Referência, baseando seu argumento na estratégia adotada por Moscou. “Creio que a Rússia optou por uma espécie de blitzkrieg, com ataques direcionados às estruturas militares“, afirmou, referindo-se à tática de guerra relâmpago adotada pelos alemães na Segunda Guerra Mundial.
O que também tende a contribuir para um conflito de duração reduzida é a decisão da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) de não interferir militarmente. “Não creio em envolvimento de outras potências no conflito, o que poderia desencadear uma guerra mais ampla e com consequências imprevisíveis”, disse Woloszyn, que é diplomado pela Escola Superior de Guerra.
Embora venha manifestando constantemente apoio à Ucrânia, a aliança diz que não enviará tropas para defender o país agredido. Mas seus Estados-Membros prometem impor as sanções econômicas e políticas o mais duras possível contra Moscou. E Woloszyn diz acreditar que essa postura não mudará: “Minha opinião é de que este envolvimento (da Otan) será apenas diplomático e com sanções econômicas”.
Woloszyn afirma, ainda, que a ação russa contra a Ucrânia evidencia o fracasso da diplomacia. “Mais uma vez, se mostra a incompetência da ONU em evitar uma guerra por meio de negociações, assim como aconteceu na invasão do Iraque em 2003 e em outras guerras do século passado que não conseguiu evitar”.
A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho nesta quinta-feira (24), remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano e se estende até hoje.
O conflito armado no leste da Ucrânia opõe o governo central às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e foram oficialmente reconhecidas como territórios independentes por Moscou. Foi o suporte aos separatistas que Putin usou como argumento para justificar a invasão, classificada por ele como uma “operação militar especial”.
“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) desta quinta (24), de acordo com o site independente The Moscow Times. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país, segundo a agência AFP.
O conflito, porém, tende a ser mais duro para Moscou que o de 2014 na Crimeia. Isso porque o Ocidente ajudou a Ucrânia a desenvolver e ampliar suas forças armadas, fornecendo armamento, tecnologia e treinamento.
“Sem pânico. Nós somos fortes. Estamos prontos para tudo. Vamos derrotar todo mundo porque somos a Ucrânia”, disse o presidente Volodymyr Zelensky pouco após o anúncio da invasão, de acordo com a rede Voice of America (VOA).